Crítica Nediana: Coraline e o Mundo Secreto (2009)

Crítica Nediana: Coraline e o Mundo Secreto (2009)

Ned
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Bom dia, boa tarde, boa noite, caros leitores do blog! Hoje vim trazer minhas impressões sobre um filme animado que muito provavelmente vocês já assistiram (e amam): Coraline e o Mundo Secreto, baseado no livro de Neil Gaiman (sim, ele mesmo!), dirigido por Henry Selick (de O Estranho Mundo de Jack) e o primeiro longa-metragem do estúdio Laika. Devo avisar que não li o livro (ainda) então não poderei avaliar como adaptação (e mesmo se pudesse, o que mais importa é funcionar como filme em si).

Premissa: Coraline é uma criança serelepe que não recebe a atenção devida dos pais e que está frustrada com o novo apartamento (caindo aos pedaços) no qual sua família passa a viver, isso somado à vizinhança excêntrica, em especial o inoportuno Wyborne. Porém, logo nos primeiros dias no novo lar, ela descobre uma pequena porta num quarto, com passagem ladrilhada que, durante a noite, dá lugar a um portal, que leva Coraline a uma versão aparentemente ideal de sua vida, com pais atenciosos, uma vizinhança legal e uma boa dose de mágica. Porém, conforme passam as noites nesse mundo alternativo, Coraline nota segredos bizarros por trás de tudo.

Da minha parte, nunca tinha assistido esse filme por completo antes, apenas partes, e lembro especificamente de muitas crianças da minha idade (na época em que o filme foi lançado) tratando o filme como a obra mais sinistra do mundo. Basicamente o primeiro filme de "terror" de uma geração inteira, e que muitos amam até hoje. Tendo visto na íntegra como adulto, posso dizer que todo essa paixão ao redor da obra é compreensível.

Vamos começar pelo elemento mais "óbvio": o estilo da animação. Eu sou suspeito pra falar pois sou um grande entusiasta de stop-motion, mas não tem jeito: a direção de arte nesse filme é uma lindeza, tanto pela técnica (a qual Henry Selick já domina com maestria a essa altura do campeonato), como pelos designs inventivos que exploram um limiar entre o excêntrico, o mágico e o macabro. E a tonalidade das cores também contribui para a transição de cenários e temperamentos, conforme a história vai avançando e o mundo modorrento de Coraline (dominado por cores mortas e acinzentadas) é substituído por um suposto mundo idílico e colorido que se revela uma toca sinistra de uma entidade maligna, uma Bela Dama (ou Beldam, até hoje tô confuso sobre como me devo referir a criatura) com um visual sinistro de aranha humanoide esquelética e olhos de botão escuros. 

Selick não teve medo de deixar o filme o suficientemente apavorante para as crianças, mas também não pesou a mão a ponto de afastar o público alvo. Vendo como adulto, eu realmente não sinto medo, não é um filme que assusta um publico maduro, mas fico maravilhado com a forma com que o terror não é demasiadamente banalizado no filme, tendo momentos que para uma criança realmente seriam assustadores, como quando a Bela Dama salta em direção a uma indefesa Coraline, presa numa teia de aranha que por sua vez é a única coisa que a impede de cair num vácuo. Ou quando Coraline descobre que a sua tão querida Outra Mãe na realidade queria tirar-lhe os olhos para aprisionar sua alma (uma boa sacada com o ditado popular "os olhos são as janelas da alma") e alimentar-se de seu ser. Claro que o filme não diz isso com todas as palavras, adocica a situação para a criançada levar numa boa, mas o significado verdadeiro é claro o suficiente para manter o tom de urgência mesmo para quem é adulto. 

Considerações finais: Coraline e o Mundo Secreto alcançou um status de aclamação e reverência que eu considero merecido, apesar de não ter sido tão impactado pelo filme quanto praticamente todo o resto da minha geração aparentemente foi impactado. Claro que não é demérito do filme. Há um carinho e qualidade perceptíveis, seja pelo sempre bem vindo stop motion, direção de arte de encher os olhos e o fato de não se acovardar e amenizar o filme para não assustar seu público alvo. Afinal, se trata famosamente de um filme de fantasia e terror infantil, logo deve tanto encantar como assustar a molecada, ao mesmo tempo em que fornece uma ótima lição de moral sobre gratidão e não exigir que o mundo gire em torno de si mesmo. Se há dúvidas que o filme alcançou seu objetivo, a fama do mesmo testifica o contrário.

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