Praticamente um mês atrasado, mas trago aqui minhas impressões sobre a aguardada sequência de um dos clássicos modernos da Pixar, Divertida Mente.
O filme vai pelo caminho óbvio (o que não é necessariamente algo ruim), e mostra a protagonista Riley crescendo e adentrando na puberdade e blá blá blá. Somos apresentados a um conceito novo, que obviamente se torna peça central da narrativa: as Convicções, que determinam muitas das ações e respostas emocionais da Riley. Além disso, com a vinda dessa fatídica etapa da vida, surgem novas emoções como Ansiedade, Vergonha, Tédio (infelizmente a versão dublada perdeu a sacada encima dos franceses que a versão original possui) e Inveja. Como se a Riley não sentisse essas emoções antes de maneira subtendida, mas ok, tem que vender boneco. Não demora praticamente nada até a Ansiedade, afobada como ela só, decidir dar um golpe de estado e exilar as emoções originais, tomando o controle da vida da Riley (o grande vilão da geração atual ao lado da depressão: a ansiedade. Quem diria.)
As novas emoções, apesar de serem obviamente uma estratégia desnecessária da Disney de vender mais boneco, são carismáticas o suficiente. O fato de somente a Ansiedade ser uma peça importante pro filme não me incomodou muito, as outras emoções novas cumprem bem seus papéis de coadjuvantes de luxo. O que pega é que essas novas emoções foram consequência da puberdade, porém não exploram muito quanto a puberdade em si e focam mais nos conflitos de interesse da Riley quanto às amigas e às suas ambições esportivas. E não é como se puberdade fosse um tema inédito para a Pixar, considerando Red - Crescer é uma Fera, mas talvez os pais terem feito um escândalo na época ao verem menstruação ser mencionada num filme infantil fez a Disney, agora tão focada em querer reconquistar o público perdido nos últimos anos, voltar atrás e não trazer uma abordagem mais ousada (mesmo que de maneira apropriada pro público alvo) ou pertinente.
Como um todo, o filme não é um Tédio (ba dum tss), mas a medida que a trama vai avançando, mais fica óbvio o quanto isso é um repeteco-não-tão-inteligente do original. Isso não anula algumas boas sacadas (ainda tem várias boas sequências bem-humoradas, incluindo uma sátira à Dora a Aventureira, e até mesmo um clímax eficiente, quando focado na Riley aceitando sua complexidade e não no manjado "ataque-de-pânico-realista-animation-is-cinema.png"), mas deixa um sentimento de "toda a badalação só pra isso?".
Considerações finais: Não é um filme desprovido de ideias boas, uma dose da inteligência emocional do primeiro (e superior, por uma boa margem) filme ainda está aí, mas a sensação predominante foi de um filler protocolar. Curioso ver todos os elogios ao filme como se fosse um retorno à glória da Pixar, pois, pelo menos pra mim, é tão enlatado quanto vários dos filmes recentes da mesma, ou talvez até mais. Só deu sorte de ser um enlatado ok, requentado no micro-ondas e gostosinho, e não um enlatado congelado e de marca ruim como Lightyear. Talvez o senso de identificação da Geração Z (geração esta pautada no identitarismo ao se relacionar com a arte) quanto a ansiedade teve um papel a desempenhar nisso. Talvez não seja o caso de "genuína obra prima da Pixar", e sim de "filme certo na hora certa". Sorte da Disney, acho.
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