Também conhecido como Monty Python: A Vida de Paul.
Brincadeira
Enfim, a tão aguardada sequência de Duna (2021) está entre nós, e tive o privilégio de assistir o filme na estreia no dia 29 do mês passado. Eis aqui a minha crítica. Com spoilers, já vou avisando, pois acredito que só conseguirei abordar isso falando com mais profundidade sobre os pormenores do longa-metragem. Se quiserem ver uma síntese sem spoilers, pulem para as considerações finais.
Enfim, a tão aguardada sequência de Duna (2021) está entre nós, e tive o privilégio de assistir o filme na estreia no dia 29 do mês passado. Eis aqui a minha crítica. Com spoilers, já vou avisando, pois acredito que só conseguirei abordar isso falando com mais profundidade sobre os pormenores do longa-metragem. Se quiserem ver uma síntese sem spoilers, pulem para as considerações finais.
Denis Villeneuve continua sua empreitada de trazer pras telonas uma adaptação digna do livro outrora considerado "inadaptável" de Frank Herbert, e estou feliz em dizer que ele conseguiu. Claro que acaba por condensar alguns eventos do livro, mas isso é inevitável. Ocorreu até com outras adaptações de épicos renomados como O Senhor dos Anéis, então ser purista aqui é pedir para ser desnecessariamente infeliz. O que importa é que Villeneuve consegue transmitir com maestria o épico que é Duna, e sem esquecer da sua mensagem relevante até mesmo para os dias de hoje.
A começar pela incrível direção de arte do longa. No primeiro filme já era um aspecto forte (quiçá o mais forte), mas aqui isso é elevado a um outro patamar, com não só uma fotografia de ponta, mas também uma palheta de cores mais variada, a exemplo de um laranja intenso predominante numa das sequências de ação do início do filme, ou uma das minhas sequências favoritas: a cena em preto e branco em Giedi Prime, o planeta dos Harkonnen. A dicotomia entre os interiores "coloridos" (na medida do possível para um lugar tétrico como aquele) e a arena monocromática foi uma escolha interessantíssima. Isso sem falar nas atuações tanto de Austin Butler como de Léa Seydoux (que interpretam Feyd-Rautha Harkonnen e Margot Fenring respectivamente) na hipnotizante sequência em que Margot usa seus dotes Bene Gesserit para seduzir um sexualmente vulnerável Feyd num corredor escuro iluminado por fogos de artifícios de cores neutras. Não é só Feyd-Rautha que cai na lábia da "bruxa", é o espectador. Também temos as típicas cenas imponentes que esperamos de um filme do Villeneuve em colaboração com o diretor de fotografia Greig Fraser. O uso da primorosa tecnologia IMAX não é em vão, e posso atestar isso por ter visto numa sala IMAX. Cada cena imponente na telona de tamanho descomunal enche os olhos, aliado a uma edição sonora afiada, que faz com que você sinta cada estocada de uma lâmina, e faz com que cada explosão pareça ter ocorrido do seu lado. Até mesmo uma cena que já tinha visto anteriormente, como a de Paul montando seu primeiro verme, tem um impacto muito mais atenuado devido a potência da tecnologia no seu habitat natural. Só por isso o filme já se faz digno de uma sessão como essa. Palmas também para a já magistral trilha do consagrado Hans Zimmer, que faz algo tão marcante quanto o seu trabalho para o primeiro filme (que eu considero um de seus melhores trabalhos, o que para alguém do cacife de Zimmer, não é pouca coisa).
As cenas de ação, que alguns consideram um dos pontos fracos do primeiro filme, ganham uma atenção especial aqui. Villeneuve teve uma evolução palpável principalmente no combate corpo a corpo, que chega no ápice em um duelo final brutal entre Paul e Feyd. As batalhas mais campais num geral transmitem uma sensação de grandiosidade sublime, não parece nada banal, mesmo quando dura rapidamente. Talvez a única reclamação mais séria que tenho quanto ao filme, falando nisso, é quanto a batalha de Arrakina. Passa rápido demais, e é praticamente a única batalha que eu realmente senti a duração curta. No entanto, o pouco que vemos é inacreditável em termos de escopo, e por mim, eu prefiro bem mais quando temos batalhas curtas mas lindas como essa ao invés de batalhas mais longas e sem tanto impacto como a queda da Casa Atreides no primeiro filme (que ainda tem seus pontos redimíveis interessantes, não me levem a mal). Se considerar que o forte do livro nunca foi a descrição de batalhas grandiloquentes e sim suas dissertações político-sociais, estamos bem servidos.
Indo para o campo das atuações/personagens, o já citado Feyd-Rautha de Butler realmente é um show a parte na atuação, mas devo discordar dos que o consideram o ápice do filme. Pra mim, esse posto pertence à dupla Timothée Chalamet e Zendaya, como Paul e Chani respectivamente. Chalamet canaliza de maneira sublime a evolução de Paul de um jovem que pretende manter-se longe de qualquer dilema maior e viver com sua amada para um líder religioso tirânico. A cena em que Paul assume de vez o manto messiânico de Lisan al-Gaib no sul de Arrakis, fazendo um discurso sinistro e potente, se trata simplesmente do melhor trabalho do ator, superando sua atuação em Me Chame Pelo Seu Nome, que lhe alçou ao estrelato. O poder aterrador da fé cega, tudo isso pelos olhos de Chani, que transita entre jovem apaixonada, fiel ao Paul e a guerreira fiel aos ideais fremen que desconfia da figura populista por trás do Muad'Dib. No mais, os outros atores também estão bem em seus papeis, mas os grandes destaques foram os anteriormente citados. Temos também uma abordagem curiosa quanto a Alia Atreides, irmã caçula de Paul. Nos livros, ela nasce em determinado momento da história e, devido ao contato precoce com a Água da Vida durante o ritual de Jessica (mãe) para se tornar a Reverenda Madre, ela se torna uma criança prodígio macabra que possui as memórias de todas as Reverendas antecessoras. Aos olhos de alguns, uma Aberração. Porém, o filme não possui a passagem de tempo do livro, então a personagem nunca nasce. Ainda assim, graças ao contato com a Água da Vida, ela se torna um feto consciente, com cenas surreais de um feto num pano de fundo azul que remetem ao super bebê de 2001:Uma Odisseia no Espaço. Villeneuve encontrou um novo caminho para trazer as "esquisitices" da obra de Frank Herbert, com direito a sementes para o futuro de Alia, e até mesmo uma participação de Anya Taylor Joy como a versão adulta da personagem numa visão do futuro. Uma troca justa, na minha concepção.
Por fim, há de se fazer um paralelo entre o final do filme e o do livro. Tanto no filme como no livro, a história termina com Paul dando a largada para uma Guerra Santa (ou Jihad no livro) que assola todo o Imperium e extermina bilhões. Do jugo opressivo dos Harkonnen para o falso paraíso dos Atreides, que nada mais são que descendentes dos Harkonnen (algo bem ressaltado no filme, o que deixa bem claro o significado de tudo). Porém a grande diferença (e que pode acarretar em mudanças significativas em Messias de Duna) é o final do casal Paul e Chani. No livro, Chani é "relegada" ao papel de concubina, enquanto Paul se casa com a Princesa Irulan por propósitos políticos. Chani entende a decisão e se mantém ao lado do amado, sabendo que ele só tem olhos para ela. Jessica então reflete sobre sua própria condição como concubina do falecido Duque Leto. Eles nunca chegaram a se casar, decisão esta que Leto e Jessica se arrependem amargamente, porém, mesmo fazendo parte supostamente de um status relacional inferior, são as concubinas que fizeram toda a história mover. Aqui, a dicotomia Jessica/Chani é drasticamente diferente. Aqui vemos uma Jessica completamente tragada pela trama religiosa e entusiasmada com o extermínio daqueles que considera uma ameaça, enquanto Chani, ao perceber que o Paul que ela amava se deixou levar pelo medo de contrariar seu falso destino e abraçou um papel sanguinário, o abandona, se esforçando ao máximo para conter as lágrimas, enquanto as naves dos Feydaikin deixam Arrakis para dizimar bilhões no universo em nome de um "messias" que não é nada mais nada menos que um déspota.
Por fim, há de se fazer um paralelo entre o final do filme e o do livro. Tanto no filme como no livro, a história termina com Paul dando a largada para uma Guerra Santa (ou Jihad no livro) que assola todo o Imperium e extermina bilhões. Do jugo opressivo dos Harkonnen para o falso paraíso dos Atreides, que nada mais são que descendentes dos Harkonnen (algo bem ressaltado no filme, o que deixa bem claro o significado de tudo). Porém a grande diferença (e que pode acarretar em mudanças significativas em Messias de Duna) é o final do casal Paul e Chani. No livro, Chani é "relegada" ao papel de concubina, enquanto Paul se casa com a Princesa Irulan por propósitos políticos. Chani entende a decisão e se mantém ao lado do amado, sabendo que ele só tem olhos para ela. Jessica então reflete sobre sua própria condição como concubina do falecido Duque Leto. Eles nunca chegaram a se casar, decisão esta que Leto e Jessica se arrependem amargamente, porém, mesmo fazendo parte supostamente de um status relacional inferior, são as concubinas que fizeram toda a história mover. Aqui, a dicotomia Jessica/Chani é drasticamente diferente. Aqui vemos uma Jessica completamente tragada pela trama religiosa e entusiasmada com o extermínio daqueles que considera uma ameaça, enquanto Chani, ao perceber que o Paul que ela amava se deixou levar pelo medo de contrariar seu falso destino e abraçou um papel sanguinário, o abandona, se esforçando ao máximo para conter as lágrimas, enquanto as naves dos Feydaikin deixam Arrakis para dizimar bilhões no universo em nome de um "messias" que não é nada mais nada menos que um déspota.
Considerações finais: Villeneuve, como fã da obra de Herbert, entendia o material que tinha em mãos, e nos trás um épico de ficção científica que não víamos a muito tempo. Se trata de uma obra que atinge níveis incrivelmente próximos de perfeição, e deslumbra pela sua narrativa apoteótica e subversiva sobre um messias relutante, sobre um jovem que sucumbe a um propósito terrível às custas de sua própria humanidade. Indubitavelmente, não vemos esse tipo de obra no cinema mainstream frequentemente. Todo o prestígio ao longa é merecido.
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